sexta-feira, maio 25, 2007

Mesa Reservada

(Ela iria à Igreja pedir pelo próprio fim. Ah, Deus, exista, por favor, amém.)

Sentou-se, com a nova namorada, no mesmo banco de um dia distante. Enquanto eles conversavam, ele lembrava de estar esperando uma menina voltar do banheiro, rindo sem jeito pelo olhar dele. Quanto tempo faria que não se falavam? Não lembrava, mas não importava; sentia, por aquele dia perdido, uma saudade doce e meio alaranjada, de fim de tarde; e sequer era dado a reencontros; não, gostava de ter um passado, uma fotografia em segredo – esse tipo de segredo que faz a gente rir sozinho, numa cumplicidade íntima, egoísta...
{e meio cruel, caso se tenha consciência disso, como ele tinha}.
Agora, era hora de dizer que amava, amava a garotinha triste da cadeira ao lado. E ele disse exatamente no instante esperado – sabia jogar bem no amor – e não, ele não mentia: amava, sim, a tal mocinha. Mas é falha a nossa posse de racionalidade, senão tanta lembrança, tanta história, não seria motivo de tanta...

(Mas Deus não existia, não veio o sinal, a culpa foi embora e ela se matou – sem culpa, e sem tentativa-de-chamar-atenção. O som era do CD que ela comprou numa cidade pequena, com um menino que conheceu um dia, depois de sair do banheiro, sentados no banco, antes de passar na loja.)

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